sábado, 31 de outubro de 2009

Run for rest

Eu temo o impossivel. Temo que o vento me traga aquilo que desejo e assim ficar sem futuro. Por isso saí correndo. Levantei do computador, botei um tênis, saí pela porta sem trancar e caí no mundo, na rua. Voei duas ou três quadras, me perdi nos pensamentos instantâneos, as frases sem completar, coisas pra fazer, pessoas que conheci, sinal fechado – não importa – cuidei dos carros e a moto que vinham. Em dois pulos atravessei a zona perigosa. Olhei pra trás: alguém vinha me seguindo. Silencioso, desaparecia nas sombras. Amigo, inimigo ou neutro? Não sei. Minha sombra. Deslizei pela ladeira à frente. Um barzinho, um toldo com bordas, não resisti. Saltei, dei o tapa da conquista. Os cachorros das casas desejosos de me pegarem. Eles me amam! Sou a alegria da sua euforia! Pássaros e seus rasantes, folhas rolando, a calçada sombreada e fresca... O vento me embalou: os pés deixaram o chão e fui carregado. Foi como um salto à distancia quilométrico. Estava longe de casa. Anoitecia. Luzes, faíscas, ruídos, roncos, fumaça e risadas. Muitas risadas. Happy hour and happy people. Senti saudades de casa, do mato, da chuva e da grama molhada. Quis chorar - solucei - forcei o ritmo da corrida até perder o fôlego e o pensamento. Queria ser criança e dar risada do meu mundo, sabe? Deixar a imaginação dirigir meu rumo. Voltei pra casa correndo pelos fios de luz. Escalei o meu prédio e durmi num algodão gigante que tinha dois olhos e um rabo. Há algum tempo que não sonho.

Volúvel: meus ultimos dias

Porque o mérito é meu. E só meu. Já que nos dias em que o sol gritava lá fora em meio a toda vastidão azul fui eu que resisti à vontade de desistir. Não dou graças a ninguém que não eu mesmo. Sei que o esforço vale a pena. Minha alma não é pequena. Essa resistência interior deixou seqüelas, sim. Hoje sei que sou mais forte que ontem, que os obstáculos me farão crescer. Mas sei também que diante de cada obstáculo vou fraquejar e vou querer sair do jeito mais fácil. Vou condenar o mundo, desmerecer as pessoas ao redor, descontar em alguém. Mas são os sintomas. É difícil saber que vai ser sempre assim. Mais difícil é saber que vou sofrer e mesmo sabendo disso não conseguirei evitar. É como saber da morte e não poder fugir. Descubro, enfim, num relampeio, numa epifania, que o destino não são fatos que devem ocorrer em seqüência, mas são vivências das quais não podemos fugir. Hoje acredito em destino. Amanhã já não tenho certeza. Talvez seja destinado ao acaso. Sei lá.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pra tirar o atraso: meus ultimos dias

Noite perfeita: amena, calma
Lua!
E a gente gastando a vida em livros...

Saber que nunca mais seremos jovens!
Nunca mais zombaremos da morte como agora...

Seremos atormentados
E atormentaremos aos jovens, por sua vez

Direi que aproveitem a vida!
Mas que, para aproveitá-la, trabalhem, estudem

E a vida já não tem mais sentido
É um ciclo, um biciclo, um triciclo

Cada roda deseja uma direção
Mas as três seguem para o mesmo lugar
Que tantas outras rodas já tentaram desviar...
Inutilmente.

Um, dois, três
Respiro:

Nada.

Esse nada
Consome.

sábado, 10 de outubro de 2009

23 de Fevereiro de 2008 - 23:00 hrs

Enquanto ele anda sozinho pelas ruas iluminadas da cidade quase adormecida, ela sonha com ele e pensa nele ao mesmo tempo em que cozinha; em que arruma as coisas espalhadas no quarto; em que dá ordens para o irmão mais novo deixar de se acomodar.
Ele lê. Ela lê. Ele toca o instrumento musical preferido dela. Ela, quando canta, pensa nele. Mas cada um em seu mundinho intransponível, egoísta e cheio de idéias.
Quando está sozinha, parada na janela do quarto, olhando para o relógio da torre da matriz muito bem iluminada, ela se imagina caminhando ao lado dele, sorrindo e falando sobre coisas banais dos seus dia-a-dias, enquanto ele a escuta e a analisa com um ar sabido e sincero no rosto. Um olhar de quem a ama de verdade, do jeito que ela gostaria que fosse.
Quando está sozinho, olhando para a imensidão de estrelas que deixam a noite tão bela, ele confabula consigo mesmo sobre os seus projetos futuros, sobre seu estudo e seu trabalho, sobre o quão rico ficaria se isso ou aquilo acontecesse.
Olhando-o de longe, ela é fuzilada por sentimentos de perda, de falta, de um carinho que não pôde mais oferecer, de um carinho que foi negado por ele (sem explicações). E estes sentimentos, de tão intensos e sinceros, levam-na a amá-lo mais e mais, pois esta tal "dor-do-amor" é boa de sentir!
Olhando-a de longe, ele sabe o que ela sente, ele sabe o que se passa na cabeça dela, ele a conhece mesmo achando que não. Olhando-a de longe, ele apenas lamenta. Mundos distintos, distantes, porém, atraentemente completos.

domingo, 4 de outubro de 2009

Difícil dizer.

Mas e se um dia eu te disser que estou me sentindo estranha e que não consigo conversar, você pode sorrir e dizer que tudo bem, mesmo não entendendo essas minhas coisas, pois eu também vou sorrir e dizer que não entendo dessas minhas próprias coisas. Mas e se um dia eu te parecer diferente ou fora do comum, com um jeito estranho de te olhar e te falar, você pode parar e refletir, pois afinal não se fica diferente de uma hora pra outra; eu também estarei refletindo. Mas e se um dia eu estiver tão distante e tão fora do assunto que vai ser chato continuar conversando, você pode se zangar e fazer aquela cara de desaprovação, pois na hora eu vou estar mesmo precisando que alguém me tire daqueles longos pensamentos. Mas e se um dia eu me calar e definitivamente não responder? Se eu te deixar estranhamente envergonhado e confuso com o meu silêncio? Aí você pode me olhar nos olhos por alguns instantes que vão parecer infinitos e também se calar. Nesta hora o meu silêncio vai te falar tão alto, meu olhar vai ser-te tão intenso que você saberá por ele que de todas as formas e jeitos eu quis te demonstrar o que sinto. Você saberá que eu quis dizer "eu te amo" de todas as formas, sem ter que parecer óbvia. Você saberá e entenderá, pelo meu silêncio, que o que eu sempre quis foi não ter que te dizer.
Mas e se um dia eu te disser?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Somos eu e...

E somos nós, nós insanos, que nos disperdiçamos em tempos longos de caminhadas longas de reflexões extremamente longas. E somos nós e não eles, boêmios infantis, embebidos de prazeres efêmeros, com seus drinks azuis, seus cigarros em maço e suas prostitutas ousadas. E somos nós e não elas, crianças tolas vestidas de branco e preto, gozando de maturidades fantasiadas, com seus hormônios alterados, seus desejos retorcidos. E somos nós, nós inocentes, que nos aborrecemos com mediocridades sem limite, com mentes escassas, culturas poluídas [e vice-versa]. E somos nós e não eles, lideres ignorantes que pintam nossa história de cinza, enchem seus bolsos de verde, mentem discaradamente e sorriem amarelo. E somos nós e não eles, garotos(as) duvidosos(as) com seus conceitos facilmente mutáveis sobre beleza e sexualidade e suas drogas ainda mais alucinógenas. E somos nós, nós pensadores e escritores da noite, nós responsáveis demais, nós conscientes demais, nós conformados de menos; somos nós que mantemos a "ordem"; somos nós que morremos de pena; somos nós que acreditamos. Ainda acreditamos. Mentes brilhantes, jovens saudáveis, políticos honestos. Nada utópico, de fato!