sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Encontro

Pergunto-me isto há dias: De onde veio toda essa amargura dos teus escritos?
Foste tu ou fui eu quem externou todos eles? Fui eu. Um eu em crise, um eu perturbado, confuso e descontente. Este eu que já não sou, mas tu. Inseguro por não conseguir lidar com a balbúrdia da própria cabeça. Tão inconformado e descrente, pobre ser é o que tu és! Quando foi que perdestes a confiança em tuas próprias decisões?  Eu não sou tão rude nem tão descrente assim! Tu penetrastes na penumbrosa desordem dos inconstantes pensamentos sem ao menos possuir um foco de luz. Tolo é o que somos. Tolo tu, por mergulhares tão fundo. Tola eu, por te deixar existir e insistir tão miseravelmente. Eu sinto muito. Eu me sinto tanto. Vem, volte pra cá e te encontra outra vez em mim. Tu sou eu e contigo longe eu não me sou completa.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

24 de agosto de 1988


Hoje ela se encontra num estado tal que nem mesmo o horror da realidade e a imprecisão do futuro lhe abalam o chão. Enxerga o passado sem lástima e o presente como uma grande oportunidade. Não tem pressa. Seus pés estão firmes, Sua mente está tranquila e a pulsação controlada. Um estado de espírito invejável, pra lá de satisfeito. Hoje o mundo é dela, acontecendo livremente, conforme a sua natureza. E o amanhã a aguarda sorridente. Que assim seja. Feliz aniversário, menina doida.

terça-feira, 3 de julho de 2012

O que é a vida, então, se tu que vives não sabe?

"Confusão é o nome que inventamos para uma ordem que não compreendemos." (Henry Miller)

O grande absurdo de toda essa confusão que é a vida é empenhar-se em organizá-la de tal maneira que se torne compreensível e, portanto, aceitável. Mas ela já começa caótica e, ironicamente, sem o teu consentimento. Vens viver nesse mundo sem fazer ideia de que porra é essa. E ao invés de iniciares a vida possuindo a liberdade de descobrir por teus próprios méritos o que é viver e como queres viver, como ainda não podes reivindicar qualquer outra coisa, acabas ganhando um belo modelo muito bem elaborado que te instruirá na primeira vivência. Tu só precisas respirar e manter-se vivo, porque enquanto vivente não farás nada além de seguir modelos pré estabelecidos. A vivência se torna cômoda e obrigatória, visto que nem mesmo podes escolher por não respirar, pois possuis além de tudo um instinto inimigo que te proíbes de escolher. Tu não reges tua própria vida. Não és dono de si, nem tens a liberdade de ser. Podes apenas, depois de algum tempo de vivência, escolher entre um modelo ou outro, conforme te agrade as consequências de tal escolha. E com a escolha já feita, a vivência vai se tornando cada vez mais aceitável a medida em que tu vais se organizando no modelo escolhido. Mas ainda podes respirar. Respiras fundo e cada vez mais fundo esse cheiro agridoce de vida sem influxo da vontade própria. Enquanto respiras, come. Enquanto comes, mantém-se vivo e organizado no seu modelo. Nesta altura já possuis o poder de reivindicar um novo modo de vivência que não um dos pré estabelecidos. Já podes mandar o teu belo modelo à merda. Já podes descobrir por si próprio o prazer desordenado de inventar uma nova vida a cada dia. Mas estás tão confortável e tão seguro nesta sucessão de manutenção de vida, que tudo o que vier para renovar e quebrar sequências é visto como desequilíbrio ou loucura. E dá medo nos outros. Muito medo!

sábado, 23 de junho de 2012

Profundidade

Eu espero que tu tomes sempre muito cuidado pra não cair dentro de mim, porque nessa extensa dimensão, meu bem, tu demorarás bastante pra chegar ao chão. Se chegares um dia.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Âmago

Cai na real, você ama o seu próprio caos. Ele nasceu das circunstâncias da tua vida, incessantemente dissimulada, mas desde o início é você que o alimenta com o sufocamento dos teus desejos mais sinceros e das tuas manifestações mais hostis. Você o preserva e o mantém acessível porque só com ele você se sente como é de verdade: caótico e genuíno. E por incrível que pareça, você nunca esteve tão belo e nunca pareceu tão livre como agora eu te vejo, mergulhado dentro dele.

domingo, 27 de maio de 2012

Sublimação


No dia em que eu morrer
Não será nada de mais...
Meu sangue a escorrer,
Um cadáver aos chacais.

No dia em que eu morrer
Não será nada de mais...
Palavras em fogueiras a arder,
Nota de óbito em jornais.

No tempo em que 'vivi'
Nada fiz senão morrer.
Um morto vivo por aí.

Por Igor Rabel Corso

Veja bem

O mistério é sempre o outro com o seu modo de olhar o mundo. As vezes acontece de dois olharem do mesmo modo, só que pra lados diferentes. Um pro lado de dentro do outro. Mas eu não sabia disso porque nunca enxerguei muito bem mesmo.

sábado, 26 de maio de 2012

sábado, 19 de maio de 2012

Mulher

Corpo, pele, dentes, olhos, cabelo. O universo trama uma conspiração tão grande com toda essa perfeição tátil feminina, que ela acaba esquecendo de embelecer e aperfeiçoar também o espírito. E com ele torpe e sem cuidado, a pobre alma já nem presta. E o conjunto muito menos.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cada um na sua.

Que enfado de tentar ser. É o auge do desprazer! Se me encaixo ou se me ajusto, me limito e preocupo. Então não! Então não e assim seja. Serei eu mesmo ao meu bel-prazer. Identidade nenhuma, vontade própria, ocupada em aprender e sobreviver. E você que tem sentidos, você que fala, escuta e vê, tem que dar a mínima (ou melhor, nenhuma) importância pra isso. Porque como indivíduo, você já deve estar bem ocupado e aturdido com as questões que rodeiam seu próprio umbigo. Digo isso consciente, conivente e com um sorriso, porque também tenho o meu umbigo e sei do risco, do perigo, de lidar com crise alheia.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Enjoy

"A gente fica impressionado com a quantidade de coisa se pode fazer em uma hora." Um amigo me disse estes dias. E eu fico pensando que o tempo, estas 24 horas por dia, estes sete dias por semana, todo esse tempão que a gente acha pouco e que passa rápido na real só parece pouco quando a nossa criatividade tá escassa e a nossa alma preguiçosa. A culpa não é do tempo que corre, meu caro. A culpa é nossa, que nem somos capazes de acompanhá-lo, ainda mais com competência.
Tristeza!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Que breve.

Estou por aí e carrego um monte podre e mofado comigo, que sou eu, mas não te mostro e não te conto. Pois é a minha verdade. Tão escondida e apertada e sufocada que fede.
Sem pretensão alguma durante a noite ainda vasculho este entulho onde não sei bem ao certo se parte de alma ou de instinto repousam. A cada vasculhada eu me sinto menos real mais fantasiada, vou passando da náusea para desejo, de escura para cheia de luz, do mau cheiro para o aroma, de mim para mim mesma. Mas no susto do reconhecimento já é manhã; e ao levantar-me da cama, meu monte permanece comigo, fedendo a verdade numa insistência tanta que julgo ser causada pela repressão tamanha que o causo enquanto é dia.

Loucura!