segunda-feira, 28 de março de 2011

Contudo

Um som na cabeça,
um livro na mão,
uma folha vazia, soma-se:
um borrão.

Uma noite fria,
um banco vazio,
um expresso e um torrão.
Conclusão:

Ah, se eu pudesse ser feliz sozinha.
Com essa fórmula-zinha.

domingo, 20 de março de 2011

We are accidents

É aquela velha história, daquela velha luta: rotina versus liberdade. Dentro de você, vibrando, queimando, quebrando, acontece a todo o tempo. Se não te parte o peito, parte a cabeça. E o traiçoeiro do tempo é quem faz o fogo. Enquanto ele passa, a luta se agrava. A rotina veda teus olhos, obstrui teus ouvidos, fecha tua boca e você acaba virando um mero sistema digestivo ambulante. Do outro lado, a liberdade, crucificando teus atos, ridicularizando tuas escolhas, te fazendo parar com tudo. Numa hora você finalmente cede e pára. E quando você pára, a luta passa de dentro da tua cabeça pra fora do teu corpo, transbordando, e então você chora. Chora porque nem uma nem outra te agradam em absoluto. Nada satisfaz. Tua vida continua parda. Ruma pra lugar nenhum. E no desespero de perceber teu profundo e infinito dissabor, você deseja o desaparecimento completo. Mas desaparecer é a opção dos corajosos, porque quando tua coragem não é suficiente, aí você escreve.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mas se falta sentido, aí falta tudo.

Da cozinha pro quarto, do quarto pra sala, da sala ao banheiro, no banheiro o espelho, do espelho ao chuveiro, do chuveiro ao espelho, no espelho a verdade, da verdade pra dentro. Tempo... Do banheiro pra sala, da sala pro quarto, no quarto o espelho, no espelho a verdade, da verdade pra fora, da verdade pra dentro, de dentro do quarto, do quarto pra sala, da sala pra porta, da porta à calçada, a calçada e a noite, a noite e a lua, da lua pra dentro. Tempo...
Das ruas, dos rostos, vitrinas, encostos, tudo pra dentro. Tudo pra dentro.
Dos sons, das luzes, do vento, do frio, tudo pra dentro, ocupando o vazio.
Porque cabeça vazia não rende o dia.

quinta-feira, 17 de março de 2011