sábado, 26 de dezembro de 2009

Durante meu ócio

Oh sais da África do Sul!
Quanto suor foi necessário para te produzir um tanto?
Sob esse sol escaldante que aqui impera
E esse vento incessante que arrepia
(pêlos e espetos sobre o couro)
Proteções naturais, luta pela sobrevivência!
Eterna vontade de potência!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Hoje eu parei pra ouvir.

Hoje eu parei pra ouvir o som do dia inteiro, de uma vida inteira, no dia de hoje. O tic-tac do relógio, o peso do tempo. O vento na cortina, a respiração do mundo. As batidas da asa de uma borboleta, batidas do coração. Hoje eu parei pra ouvir o som baixinho quase mudo, que só se ouve quando se para pra ouvir. Hoje eu parei pra ouvir o som da minha consciência; e o que ela me disse eu não conto pra ninguém.


[I was listenning: All My Days by Alexi Murdoch]

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

[Mais um] Sem terminar.

Não estava ali como sempre esteve, nas últimas semanas. Estranho. Lembro bem, não se movia muito. Sempre fingia ler um jornal que, aposto, não era atual. De vez em quando abaixava a cabeça, soltava uma das mãos do jornal e procurava algo nos bolsos; nunca encontrava nada neles. Voltava a olhar pro jornal e dali, disfarçava pra olhar a minha janela. Fazia esta mesma sequência várias vezes. Não sei se como ritual, ou por não ter outra coisa pra fazer. As vezes alternava o mecher nos bolsos para o olhar no relógio. O horário do dia também era sempre o mesmo; chegava sempre às 17:00hs, pois estamos em horário de verão e ele, muito branco, acredito que não pegaria o sol de horas anteriores. Estava sempre de boina. Dependendo da roupa, era azul com uns tons em vermelho, como se fossem pinceladas, ou xadrez básico com marrom predominante. Percebi, tinha uns chiliques delicados quando se sentava; coisa de gente que já viveu bastante e, além das manias cristalizadas, tem os movimentos bem lentos e leves. Todas as vezes que descia pra pegar o São Bernardo/Centro, apressada pra chegar no ponto e ainda ter tempo de parar um pouco no sebo do Seu Chico, que fica ao lado, tentava não olhar pra ele. Me distraia com o chaveiro da bolsa, com um grampo quase caindo do cabelo ou com meu próprio equilíbrio no meio-fio, tipo trapezista. Como o meu prédio fica na metade da rua e o banco onde ele se senta fica um pouco pra cima, na diagonal, até virar a esquina precisava arranjar coisas pra me distrair. Hoje não precisei; ele não apareceu. Talvez eu devesse procurar saber quem é, afinal, nunca se sabe o porquê de pessoas estranhas ficarem te observando.


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