terça-feira, 3 de julho de 2012

O que é a vida, então, se tu que vives não sabe?

"Confusão é o nome que inventamos para uma ordem que não compreendemos." (Henry Miller)

O grande absurdo de toda essa confusão que é a vida é empenhar-se em organizá-la de tal maneira que se torne compreensível e, portanto, aceitável. Mas ela já começa caótica e, ironicamente, sem o teu consentimento. Vens viver nesse mundo sem fazer ideia de que porra é essa. E ao invés de iniciares a vida possuindo a liberdade de descobrir por teus próprios méritos o que é viver e como queres viver, como ainda não podes reivindicar qualquer outra coisa, acabas ganhando um belo modelo muito bem elaborado que te instruirá na primeira vivência. Tu só precisas respirar e manter-se vivo, porque enquanto vivente não farás nada além de seguir modelos pré estabelecidos. A vivência se torna cômoda e obrigatória, visto que nem mesmo podes escolher por não respirar, pois possuis além de tudo um instinto inimigo que te proíbes de escolher. Tu não reges tua própria vida. Não és dono de si, nem tens a liberdade de ser. Podes apenas, depois de algum tempo de vivência, escolher entre um modelo ou outro, conforme te agrade as consequências de tal escolha. E com a escolha já feita, a vivência vai se tornando cada vez mais aceitável a medida em que tu vais se organizando no modelo escolhido. Mas ainda podes respirar. Respiras fundo e cada vez mais fundo esse cheiro agridoce de vida sem influxo da vontade própria. Enquanto respiras, come. Enquanto comes, mantém-se vivo e organizado no seu modelo. Nesta altura já possuis o poder de reivindicar um novo modo de vivência que não um dos pré estabelecidos. Já podes mandar o teu belo modelo à merda. Já podes descobrir por si próprio o prazer desordenado de inventar uma nova vida a cada dia. Mas estás tão confortável e tão seguro nesta sucessão de manutenção de vida, que tudo o que vier para renovar e quebrar sequências é visto como desequilíbrio ou loucura. E dá medo nos outros. Muito medo!