sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um agrado.

Depois de um filme estimulante, num instante de olhar para a janela, percebo o tempo cinza nessa noite quieta, com o clima pardo de ócio, transformar-se em energia, vir à tona, meio cor, meio brilho. Aumenta o contraste, a vontade, uma piscada demorada, e vê-se uma palavra, nota-se um som, um conjunto, em complemento. Vem pra dividir. E eu me divido em dois e eles se fitam, imparciais. Um permanece com a palavra, se balança ao som e se alegra estranhamente. O outro é todo inexpressivo, frio e insatisfeito. O que tem a palavra a compartilha: "liberdade", pisca devagar e sorri. O outro se enche de encanto, acende um cigarro e agradece.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nunca fui par de ninguém.

Num discreto deslizamento que é próprio do quieto, passei por eles com respiração trancada. Cabeça baixa e mão fechada. Com cuidado absoluto, não notei nem fui notada. Mas senti, na passagem, meu estômago e sua ânsia me doer de desgraça, me matar de esperança. Desgraçada da vida, esperançosa de tudo, atravessei a rua e respirei. Nunca fui par de ninguém, pensei. Mas não serei pra sempre uma.

sábado, 9 de abril de 2011

Assim ele se expressa: [2]

Meu fim eu sei qual é. Mantenho-me tranquilo e inquieto. Lutar contra? Mas qual o sentido? Não há sentido em nada, é um contrassenso ir contra o termo de minha vida. A luta é vã e o termo sou eu quem põe. Gozando de minha liberdade o atraso, decepcionando-me o adianto. A decisão está tomada. Alguém me passa a cerveja?

Pelo mesmo estimado amigo.

Taque o pudim na cara.

Não mostre teus dentes brancos que escondem tua língua suja! Não seja delicada e agradável quando és em verdade indiferente e desgostosa. Não ofereça teu copo se não quer ele vazio. Não levante questões quando estas são incontestáveis. Reprima-se, se alguém não o faz por você. Condene-se e liberte-se, em seguida, objetivando o gozo. Espere, objetivando o gozo. Prossiga, esperando. Procure um novo sentido. Procure o verdadeiro sentido das coisas e permaneça procurando. Sua cabeça está cheia, mas seu coração não. Então jubile-se! É a tua unica oportunidade.

sábado, 2 de abril de 2011

Assim ele se expressa:

"A tristeza sem Deus perde um pouco de seu significado. De um lado, não nos abatemos inconscientemente por ser o filho revolto que luta por sua atenção e, de outro, não nos deprimimos por ser o pródigo sem o devido reconhecimento. Inobstante, nossa vida continua sendo diluída em lágrimas. Estamos sós – é verdade -, nossa miséria é somente creditavel a nós, neuróticos por excelência, ou aos demais, igualmente neuróticos.
Tal qual embarcações sem vela, singramos à deriva o tormentoso e triste oceano da vida, acompanha-nos o vento, sugando-nos força e a (in)útil consciência. Ao fim e ao cabo: estamos cada vez mais cônscios do iminente naufrágio, mas agarramo-nos ao delírio de alcançar a uma enseada."

Por um estimado amigo.